21 de fevereiro de 2022
Infelizmente, o número de mortos em Petrópolis (RJ), após as chuvas da última semana seguem aumentando. Na manhã dessa segunda-feira (17), o Corpo de Bombeiros da cidade já tinha registrado 178 vítimas fatais, entre as quais, várias menores de idade. Há, pelo menos, outras 110 pessoas desaparecidas. Essa já é a maior tragédia da história do município.
Na última terça-feira (15), choveu cerca de 260 milímetros em 24 horas. Para se ter uma ideia do que isso representa, em apenas quatro horas, o volume de água excedeu o que era esperado para o mês inteiro. Em áreas de risco, historicamente conhecidas pelos governos, mas que nunca recebem as devidas medidas de prevenção, essa tempestade resultou em violentas enxurradas, inundações e deslizamentos. Depois, voltou a chover forte desde quinta-feira, o que tem dificultado as buscas e ampliado a tragédia.
O cenário de destruição tomou a pequena cidade serrana. Mortes, casas invadidas pela água e lama, pertences destruídos, centenas de famílias desabrigadas. Vídeos divulgados em redes sociais mostram uma destruição assustadora, como o desmoronamento da encosta no Morro da Oficina e um “rio” de lama e destroços descendo pelas ruas da cidade, carregando carros, árvores e tudo mais que havia pelo caminho.
Mais uma vez, descaso dos governos Em 2011, no dia 12 de janeiro, após chuvas intensas, toda a região serrana do Rio de Janeiro foi fortemente afetada, com 918 mortes e ao menos 100 desaparecidos. Nova Friburgo registrou 426 óbitos na tragédia. Em Petrópolis, 73 pessoas morreram.
O desastre confirma o que vários especialistas têm afirmado diante da temporada de chuvas este ano, que também provocou destruição, mortes e caos em cidades de outros estados como Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Goiás: essas são “tragédias anunciadas”, consequências do descaso e falta de políticas de prevenção por parte dos governos.
De acordo com dados do Portal Transparência, a gestão do governador Claudio Castro (PL) gastou menos da metade do previsto do orçamento para prevenção de desastres. Do total de R$ 407,8 milhões reservados, o governo empenhou apenas R$ 192,8 milhões, ou seja, 47%. Questionado por jornalistas, o governador, aliado e do mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro, não comentou a baixa execução do programa.
Em nota de solidariedade à população de Petrópolis (RJ) e seus familiares, emitida na última sexta (18), o ANDES-SN aponta que "estes acontecimentos não estão isolados. Sabemos que as fortes chuvas estão dentro de uma política desenfreada de destruição da natureza e um dos fatores do seu agravamento é a especulação imobiliária que se intensifica. A realidade da crise climática que ambientalistas cotidianamente nos alertam traz por consequência a intensificação de eventos como estes".
"É importante reconhecer que as catástrofes climáticas guardam relação sócio-político-econômica, em que a miséria e a falta de políticas públicas para moradia levam, por exemplo, à ocupação de encostas e o desmatamento, gerando sujeição populacional a áreas de risco geológico. Nada se compara, porém, ao desmatamento criminoso de áreas que deveriam ser de proteção ambiental estejam sendo usada para construções de grandes empreendimentos", afirma o Sindicato Nacional.
O ANDES-SN reforça que as ocorrências em Petrópolis (RJ) são emblemáticas. "Nota-se que mesmo que sendo um alerta dado, não foi levada a sério o controle científico do órgão responsável, expressando o modo como o governo federal vem negando os estudos e pesquisas realizados pelas instituições", acrescenta. Leia aqui a íntegra da nota.
Crise climática Outro aspecto destacado por ambientalistas é que as ocorrências climáticas extremas que vem sendo registradas no país, assim como em outras partes do mundo, são reflexo da crise ambiental no planeta, causada lógica predatória do capitalismo.
Em relatório publicado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) no ano passado, os pesquisadores ressaltaram ser inequívoca a influência humana sobre o superaquecimento do planeta. Entre 2011 e 2020, a média da temperatura global já atingiu 1.09°C acima dos níveis pré-industriais. O IPCC aponta que temperaturas extremas podem ser até nove vezes mais frequentes já na próxima década.
Especialistas defendem que, diante da crise climática, os governos precisam reconhecer a realidade e agir, o que inclui de forma imediata estabelecer planos de adaptação climática para preparar as cidades para enfrentar a situação, adaptando sua infraestrutura, saneamento básico, acessibilidade e assistência técnica, a fim de reduzir a vulnerabilidade e a exposição da população, principalmente dos mais pobres que são sempre os mais afetados, perante os efeitos danosos das catástrofes.
Fonte: Andes-SN, com informações da CSP-Conlutas
Foto: Tânia Rego / Agência Brasil
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