Nos dez campi da Unipampa, uma instituição de base popular, constituída por filhas e filhos da classe trabalhadora, o tema da moradia estudantil é definidor: determina o diploma ou a impossibilidade de conclusão dos cursos. Alunas e alunos, quando ingressam na universidade, em muitos casos mudam de cidade e se deparam com uma situação descrita como “de desamparo”.
A assistência estudantil da Universidade Federal do Pampa é modulada por auxílios – como de transporte, moradia, entre outros, cuja soma total dos valores resulta em cerca de 400 reais mensais, um valor já escasso para a subsistência. E não é a maioria do corpo discente que os acessa. Quando se alcança a moradia estudantil, nos poucos municípios onde está presente, essa parcela do auxílio é retirada pela instituição.
“É fundamental que a universidade debata esse modelo”, diz o professor Cauiá Cardoso Al-Alam, docente em Jaguarão e integrante da diretoria da Sesunipampa. “Hoje, a situação de estudantes é muito difícil. A assistência é muito precária”, diz. No campus onde leciona, a implantação da moradia estudantil demandou reivindicações da comunidade acadêmica.
“O movimento estudantil, com muita pressão e mobilização, conquistou-a. No ano passado, depois de uma ocupação, realizou-se uma conquista fundamental: colocar a casa em funcionamento. Mas as condições continuam precárias. Então, nesse momento, segue a reivindicação por melhores condições infraestruturais”, relata.
“Os problemas estruturais que a gente vê na casa se referem a questões de eletricidade – como mau contato e luzes que desligam sozinhas --, rachadura, ralos entupidos, entulhos de uma construção”, exemplifica a estudante Maria Alcina, do campus de Jaguarão.
Ela argumenta que a universidade deve começar a pensar em auxílios sociais para estudantes, ou “aumentar o valor dessas bolsas e dar uma forma mais digna pra viver e se manter aqui”. O problema, diz Maria Alcina, não se dá somente no ingresso à universidade, mas na permanência. “A gente já viu discentes debandarem, largarem os cursos porque não conseguem se manter”.
“Hoje me deparo com colegas que só ficaram em Jaguarão – e na verdade só permaneceram com um teto sobre a cabeça – porque a moradia estudantil foi aberta. Tenho colegas aqui que recebem por mês o valor exato de zero reais. Não têm bolsa e são pessoas que precisam dos auxílios, mas por questões burocráticas, não conseguiram acessá-los. Isso é bastante problemático, pois a gente sabe que a que Jaguarão tem as suas particularidades, o perfil socioeconômico de estudantes daqui é muito baixo”, relata. Segundo o movimento estudantil da cidade, há no campus somente quatro estudantes que recebem, hoje, o auxílio integral de manutenção.
A estudante Sara Barbosa Borghi, graduanda de enologia em Dom Pedrito, veio de Rondonópolis, no Mato Grosso. No campus onde estuda, a casa de estudantes foi inaugurada recentemente e está em processo de organização, recebendo ainda móveis. “Entrei em 2018, então a moradia pra mim representa um alívio financeiro e de segurança”, relata.
No município, diz que os valores de aluguéis são “impraticáveis para uma cidade tão pequena, então a vinda pra cá é muito caótica e morar aqui é muito complicado. Quando você acha um lugar para morar, é muito caro, ou, além de caro, sem mobília, e tudo isso pesa muito na permanência das pessoas nos cursos”.
Isso interfere, diz a estudante, até na escolha da Unipampa como instituição de ingresso. “Dessa forma, acredito que a existência da moradia em funcionamento, com os móveis principalmente, tem grande peso na decisão de vinda e na segurança de consegui residir na cidade para concluir o curso. E sim, esse é uma peculiaridade da Unipampa, principalmente do meu curso, em que a maioria do corpo discente vem de fora da cidade ou do estado”.
Para a Sesunipampa, é fundamental que a gestão superior se posicione. “Consolidar esses espaços de moradia, equipando-os e tratando-os como prioridade”, conforme afirma o professor Caiuá, “com ampliação do investimento na assistência estudantil e a revisão do modelo atual dos auxílios, que atualmente restringe muito esse direito fundamental de acesso à assistência estudantil. A gente se soma a essa luta e reivindica melhores condições”, argumenta.
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