24 de janeiro de 2022
O número de pessoas vivendo nas ruas da capital paulista passou de 24.344 para 31.884 ao final de 2021. Isso representa um aumento de 7.540 pessoas em situação de rua, ou 31%, de acordo com o Censo da População em Situação de Rua, feito pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) da prefeitura. O levantamento começou a ser feito depois do início da crise sanitária mundial, deflagrada pela pandemia de Covid-19, e suas consequências socioeconômicas.
O recenseamento, que havia sido feito em 2019, só teria de ser repetido segundo a legislação municipal em 2023, mas foi antecipado para atender às necessidades de oferecer respostas rápidas para apoiar essa população.
Segundo a prefeitura, dos 31.884 identificados no censo, 19.209 foram recenseados quando estavam nas ruas, e outros 12.675 enquanto estavam abrigados nos Centros de Acolhida da rede sócio-assistencial do município. “O crescimento numérico de 7540 pessoas é maior do que o número total de moradores em situação de rua no município do Rio de Janeiro, em 2020: 7.272 pessoas. O contingente em situação de rua também já é maior do que o número de habitantes da maioria das cidades do estado de São Paulo. Para se ter uma ideia, das 645 cidades paulistas, 449, ou 69,6% do total, têm quantidade de moradores menor do que a população em situação de rua aferida na cidade de São Paulo”, comparou a prefeitura.
Os dados revelam ainda que, em relação ao ano de 2019, havia 6.816 pontos de concentração, enquanto em 2021 esse número passou para 12.438, o que corresponde a um aumento de 82,5%. O número de barracas, classificadas como moradias improvisadas, cresceu 330% em 2021. No recenseamento de 2019, eram 2.051 pontos abordados com barracas improvisadas. Em 2021, foram computados 6.778 pontos.
Também aumentou o número de entrevistadas e de entrevistados que dizem ter em sua companhia uma pessoa que considera da família: de 20% em 2019 para 28,6% em 2021. O percentual de mulheres em situação de rua passou de 14,8% do total em 2019 para 16,6% em 2021. A população trans/travesti/agênero/não binário/outros também aumentou, ao passar de 2,7% em 2019 para 3,1% em 2021. A maioria das pessoas que vivem em situação de rua é do gênero masculino, com idade média de 41,7 anos em 2021. Do total de pessoas em situação de rua na capital paulista, 70,8% são pretos ou pardos.
O levantamento mostrou que 96,44% das pessoas em situação de rua na cidade são nascidas no Brasil e apenas 3,56% são estrangeiros. Do total, 39,2% das pessoas são naturais da capital paulista, 19,86% são de outras cidades do estado de São Paulo e 40,94% são naturais de outros estados do Brasil. As pessoas de outros estados são oriundas principalmente da Bahia, 8,47%, Minas Gerais, 5,44% e Pernambuco, 5,28%. O principal motivo que trouxe 52% das pessoas não naturais de São Paulo para a cidade foi a busca por trabalho ou emprego.
Já os dados sobre educação mostram que 93,5% das pessoas em situação de rua na cidade frequentaram escola, 92,9% sabem ler e escrever, 4,2% concluíram o ensino superior, 21,4% têm ensino médio completo e 15,3% concluíram o ensino fundamental.
Motivos Os principais motivos apontados pelas entrevistadas e pelos entrevistados para estar em situação de rua foram os conflitos familiares (34,7%), a dependência de álcool e outras drogas (29,5%) e a perda de trabalho/renda (28,4%). O levantamento também mostra que após a situação de rua, 42,8% não trabalham, 33,9% estão vivendo de bicos, 16,7% trabalham por conta própria, 3,9% estão empregados sem registro em carteira e 2,2% empregados com registro em carteira, ou seja, a maioria das pessoas que estão em situação de rua trabalha de alguma maneira, mas, em sua grande maioria, de forma precarizada.
A maioria (92,3%) expressa desejo de sair das ruas. Quando indagadas sobre o que faria com que elas deixassem as ruas, 45,7% das pessoas respondeu que um emprego fixo, seguido de moradia (23,1%), retornar para a casa de familiares ou resolver conflitos (8,1%), superar a dependência de álcool e outras drogas (6,7%).
Covid-19 Cerca de 85% das pessoas em situação de rua declararam que não tiveram Covid-19, 6,8% tiveram suspeita, mas não confirmaram com realização de exame, 3,8% tiveram Covid-19 com confirmação através de exame e não precisaram de internação hospitalar, 2% contraíram o vírus com confirmação através de exame e precisaram ser hospitalizados, enquanto 1,5% teve suspeita, mas não fez exame.
Crítica O padre Júlio Lancellotti, que atua em defesa da população de rua na capital, criticou a pesquisa em suas redes sociais. “Censo com metodologia inadequada aponta crescimento não real”, escreveu. Em vídeos que divulgou durante a manhã desta segunda-feira (24), o padre perguntava a diversas pessoas que se abrigavam nas ruas se elas foram questionadas em pesquisa da Prefeitura. Todas negaram a pergunta.
Lancellotti questiona como o censo poderia contar com exatidão que há 31.884 pessoas em situação de rua se todos que ele questionou relataram que não foram abordados pelo Qualitest, empresa contratada pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS). “Esse censo é uma mentira”, disse o religioso em um dos vídeos. Segundo ele, a quantidade de pessoas em situação de rua é maior do que a apontada no levantamento.
Fonte: Andes-SN, com informações da Agência Brasil e Mídia Ninja
Imagem: Fernando Frazão / Agência Brasil
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