O viés capacitista na reabilitação e o desafio de superar as barreiras atitudinais
- assessoriasesunipa
- há 3 dias
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A opressão contra pessoas com deficiência é sustentada pela ideologia da normalidade, que estabelece uma hierarquia entre corpos considerados "capazes" e "incapazes". Essa lógica legitima a marginalização e reforça violências simbólicas e práticas, especialmente no campo da saúde.
O capacitismo se manifesta de forma silenciosa nas barreiras atitudinais — posturas sociais, institucionais e profissionais que tratam pessoas com deficiência como vítimas, heróis ou seres inferiores. Tais atitudes comprometem o cuidado, negam a singularidade dos indivíduos e alimentam práticas terapêuticas baseadas em padrões inalcançáveis de normalidade.
A reabilitação, nesse modelo, prioriza a tentativa de retorno a uma suposta funcionalidade ideal, responsabilizando o indivíduo por seu progresso e desconsiderando contextos sociais, desejos e realidades. Isso pode gerar frustração e invisibilizar o chamado “paradoxo da felicidade”, evidenciado em estudos que mostram altos índices de satisfação com a vida entre pessoas com deficiências severas.
Decisões clínicas também são impactadas por preconceitos, como no caso da omissão de tratamentos viáveis por parte de profissionais, configurando negligência informacional. Ao insistir em soluções inatingíveis, como a recuperação da marcha em casos irreversíveis, desperdiçam-se recursos que poderiam ser investidos em acessibilidade e inclusão.
É necessário repensar prioridades: mais do que adaptar corpos ao mundo, é urgente transformar o mundo para acolher todos os corpos. Ser hábil não é seguir um padrão físico, mas ter condições reais de viver com dignidade. A deficiência não é um problema individual, mas uma construção social e política.
A superação dessas barreiras exige compromisso ético dos profissionais de saúde, com adoção de práticas como o Projeto Terapêutico Singular (PTS), a leitura crítica da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), a valorização do protagonismo das pessoas com deficiência e a formação crítica de profissionais. Só assim será possível romper com a lógica do normalismo e promover uma sociedade mais justa, inclusiva e plural.
Fonte: Brasil de Fato
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