RUs da Unipampa retomam funcionamento, mas desafios à permanência estudantil persistem: Um balanço da situação atual dos Restaurantes Universitários da Unipampa
- assessoriasesunipa
- há 2 dias
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Meses depois de um cenário de interrupções e incertezas do fornecimento de refeições em diferentes campi da Unipampa, a situação dos restaurantes universitários começa a mudar. Após um período de fechamento e incertezas, alguns campus voltaram a funcionar, outros seguem em reforma e parte dos estudantes ainda depende de auxílios financeiros para garantir a alimentação diária. Em julho deste ano, a Sesunipampa mostrou como a ausência dos restaurantes afetou diretamente a permanência de estudantes em vulnerabilidade socioeconômica. Agora, a retomada gradual reacende o debate sobre a importância dos RUs como política pública essencial para o acesso e a continuidade nos estudos.
Após a realização de novos processos licitatórios, o primeiro a ter o serviço restabelecido foi o Campus Dom Pedrito, que, conforme o cronograma fornecido pela Reitoria, teve seu Restaurante Universitário reaberto em 1º de julho de 2025. Mesmo com a retomada do funcionamento do RU, os desafios ainda são visíveis em diversos campi. Questões como a qualidade das refeições, falhas no cardápio e a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa seguem entre as principais preocupações relatadas por estudantes. Angelita Kaingang, estudante de educação do campo, no campus Dom Pedrito, aponta que “Acredito que o Restaurante Universitário tem um papel fundamental em qualquer universidade, principalmente por garantir alimentação gratuita para estudantes que dependem desse serviço. É importante para todos, independentemente da condição financeira. A reabertura dos RUs, depois da pandemia e da paralisação, foi algo muito positivo, porque todos nós, estudantes e gestores, sentimos na pele as dificuldades geradas pela ausência desse espaço. Mesmo assim, o serviço ainda apresenta carências. A comida não é ruim, mas é apenas regular, e há muitos aspectos que precisam ser melhorados com o tempo e com a continuidade das gestões.”
Afirma ainda que “Depois da paralisação, a volta não foi das melhores. Aqui em Dom Pedrito, e também em outros campi, ainda encontramos situações bem problemáticas, como refeições de baixa qualidade. Em algumas ocasiões, houve casos de larvas, insetos e até pedras na comida, o que foi muito desagradável. Essas situações ainda não foram totalmente resolvidas, embora exista um diálogo em andamento e uma expectativa de melhora, conforme o que vem sendo informado pelos responsáveis. Durante o período sem o RU, o auxílio-alimentação ajudou, mas não foi suficiente. Serviu apenas como um apoio emergencial, sem garantir a segurança alimentar dos estudantes. Mesmo assim, acredito que todo esse processo serviu de aprendizado para todos nós. Estudantes, docentes e gestores aprenderam a cooperar mais e a agir com empatia, não apenas em termos profissionais, mas também como um aprendizado de vida.”
Por fim, ela conclui que “ainda há muito a ser feito. É preciso melhorar o cardápio dos RUs e garantir que ele seja seguido conforme o que está previsto no sistema GURI. Muitas vezes esperamos um prato e encontramos outro totalmente diferente, o que causa frustração. Apesar disso, percebo um esforço da gestão atual em tentar resolver os problemas mais urgentes, e acredito que, no próximo semestre, as condições tendem a melhorar. Também acho que os gestores precisam ter uma atenção maior com o setor de alimentação. A alimentação é uma necessidade básica e essencial, e por isso a universidade deve intensificar a fiscalização, tanto em relação aos utensílios e à estrutura quanto ao trabalho das pessoas que atuam no serviço. Só com esse cuidado constante será possível resolver, de forma mais efetiva, as dificuldades que ainda persistem.”
Roni de Mello Peronio, fiscal pelo contrato do Restaurante Universitário no campus Dom Pedrito, afirma que “Após a reabertura e a contratação das novas empresas, os serviços dos Restaurantes Universitários estão funcionando de forma estável. Ainda há pontos que precisam de atenção, mas, de modo geral, percebemos uma melhora na operação. Desde o período de paralisação, houve avanços tanto na qualidade do atendimento quanto na gestão e na estrutura dos RUs. Um dos principais ajustes feitos foi a inclusão, no novo contrato, da figura do fiscal setorial, um servidor público designado especificamente para acompanhar de perto e fiscalizar a qualidade das refeições em cada campus. Essa medida tem sido essencial para garantir mais controle e transparência no serviço prestado.”
Segundo ele, “Recentemente, também foi realizada uma pesquisa com os discentes para avaliar a percepção sobre o funcionamento atual dos Restaurantes Universitários. Os resultados estão sob análise da gestão de contratos, na PRODAE, e servirão como base para orientar futuras melhorias. Em relação a eventuais instabilidades contratuais, sabemos que nossa atuação é limitada pela legislação vigente, o que restringe algumas ações emergenciais. Ainda assim, acreditamos que a aplicação rigorosa de sanções em casos de descumprimento contratual é uma forma importante de assegurar a continuidade e a qualidade do serviço.”
Os campi de Caçapava do Sul e São Gabriel também seguiram o prazo inicialmente estipulado para 11 de agosto de 2025, garantindo o retorno do serviço essencial à comunidade acadêmica. No entanto, a comunidade estudantil já se preocupa com um novo fechamento, pois há a previsão de que o RU de Caçapava do Sul entre em obras em breve. Camila Maria Longo Pleszczak, estudante do curso de Geologia do campus Caçapava do Sul da Unipampa, afirma que “A situação melhorou bastante. Antes, eu fazia parte da equipe que preparava as refeições coletivas e aquilo tomava muito tempo, estava me prejudicando na faculdade. Agora, com o restaurante voltando a funcionar, isso normalizou. À noite, se eu não me engano, é só uma funcionária na cozinha, e às vezes a refeição chega um pouco fria, o arroz cru, ou a carne mais gordurosa, coisas pontuais. Ainda assim, a qualidade e a variedade da comida melhoraram muito, cerca de 90%. As funcionárias agora têm uniforme, EPI e o ambiente está mais organizado.”
Ressalta ainda que “O RU deve fechar novamente para reforma, e dizem que vão manter o auxílio emergencial para quem tem Bolsa Permanência. Mas fico preocupada com os estudantes que não têm a bolsa, porque o gasto continua grande. Estamos até tentando solicitar à Pró-Reitoria um vale-gás, já que esse é um custo alto pra quem vive só de auxílio. Acho que ainda faltam ajustes: mais pessoal para limpeza, treinamento para a equipe da cozinha, essas coisas que o novo contrato dizia que teriam, mas ainda não se concretizaram. Mesmo assim, a melhora é visível. A qualidade da comida está bem melhor e o RU voltou a ter um papel importante no nosso dia a dia. Só espero que, quando vier a reforma, ela aconteça num período de férias, para não prejudicar de novo os alunos, especialmente os que dependem do bandejão para se alimentar bem.”
Evelton Machado Ferreira, coordenador acadêmico e responsável pelo contrato do Restaurante Universitário no campus Caçapava do Sul, afirma que “Após a reabertura dos restaurantes universitários e a contratação das novas empresas, o serviço tem se mantido estável. Desde então, houve uma melhora significativa na qualidade do atendimento, na gestão e na organização interna, resultado das mudanças implementadas após o período de paralisação. O contrato foi completamente reformulado, o que contribuiu para uma operação mais regular e transparente. Recentemente, foi concluída uma pesquisa com os usuários dos restaurantes, realizada até 5 de novembro de 2025, que deve subsidiar novas avaliações sobre o serviço e eventuais ajustes necessários. Em caso de futuras instabilidades contratuais, a condução das medidas emergenciais segue sob responsabilidade da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRODAE).”
O caso mais crítico permanece no Campus Jaguarão. O processo licitatório para a contratação de uma nova empresa, que já havia enfrentado a falta de interessados na primeira tentativa, segue em andamento. Maria Beatriz, estudante de Licenciatura em História no campus Jaguarão afirma que “O RU do campus Jaguarão ainda está fechado, e a previsão de retorno do funcionamento é sempre incerta. As pessoas dizem que volta ainda este ano, mas eu já perdi as esperanças. O processo de licitação é muito burocrático e demorado. A situação piorou desde a paralisação e continua piorando com o RU fechado. Quando ele ainda estava funcionando, a qualidade da comida era muito instável — tínhamos dias bons e dias ruins. Eu não fui contemplada pelo auxílio-alimentação emergencial, o que tornou tudo ainda mais difícil.”
Maria complementa dizendo que “Sinceramente, sinto que a universidade não aprendeu com a crise. O ideal seria mudar a forma de gestão do RU, que deveria ser administrado pelo próprio campus e não por uma empresa terceirizada. Há várias tentativas de debate sobre isso, mas parece que a reitoria sempre deixa para depois, e nunca cria de fato um grupo de trabalho ou qualquer iniciativa concreta para resolver o problema. Honestamente, sinto que o campus Jaguarão é o irmão bastardo da Unipampa. Não temos técnico de informática, o RU segue sem solução, a casa do estudante está em condições precárias e somos um dos campi que menos recebe repasses de verba. Falta atenção com o nosso campus.”
Por outro lado, Ana Júlia Fontes Ferreira, estudante de Licenciatura em História no campus Jaguarão e moradora da Casa do Estudante, comenta “Desde que o RU foi fechado, a rotina passou a ser muito mais complexa para todos nós. Perdemos o horário regular para as refeições e, muitas vezes, precisamos substituir a comida por algo mais prático, especialmente quem tem aula à tarde e à noite. Isso trouxe uma série de dificuldades para o nosso dia a dia. A paralisação nos afetou de forma muito negativa, já que muitos de nós dependíamos totalmente da alimentação fornecida pelo restaurante universitário. Quando o RU ainda funcionava, já enfrentávamos problemas com a qualidade das refeições. Nas duas últimas semanas antes do fechamento definitivo, a situação se tornou insustentável, especialmente depois da troca repentina de toda a equipe da cozinha.”
Reforça que “O auxílio-alimentação emergencial ajudou, mas não foi suficiente para garantir segurança alimentar. Muitos estudantes não têm outra forma de apoio além das bolsas, e mesmo quem recebe uma bolsa não consegue direcionar tudo para a alimentação, já que esse valor também é usado para saúde, higiene pessoal e outras despesas básicas do mês. A universidade, na minha opinião, ainda falha em vários aspectos. A falta do RU é apenas mais um entre tantos problemas que o campus enfrenta, e é justamente um dos que mais precisa de atenção entre os dez da Unipampa. A infraestrutura é um tema discutido há anos, mas sem solução concreta, o que agrava ainda mais a situação. Além do RU, também é urgente resolver a ausência de um profissional de TI. Ficar sem internet, tanto no campus quanto na Casa do Estudante, virou algo comum e prolongado. Nós dependemos da conexão para entregar trabalhos e atividades, e quando a internet cai, precisamos pedir para que os servidores avisem os professores, para tentar negociar prazos.”
Mesmo com a reabertura dos restaurantes universitários em diversos campi, o modelo de terceirização continua sendo alvo de críticas. A opção por delegar a operação a empresas contratadas, em vez de adotar a autogestão, tem gerado preocupação entre estudantes, que associam o formato à instabilidade do serviço e à falta de controle sobre a qualidade das refeições. Esse modelo torna os RUs mais vulneráveis a interrupções contratuais e variações no atendimento. Agora, relatos recentes reforçam que parte da comunidade universitária defende a revisão dessa política, com a possibilidade de uma gestão mais direta e transparente por parte da instituição.
A crise dos bandejões na Unipampa, desencadeada por irregularidades contratuais da empresa terceirizada, reforça a necessidade de um debate mais aprofundado sobre o modelo de gestão dos Restaurantes Universitários. A dependência de empresas externas para um serviço tão vital expõe a universidade e seus estudantes a instabilidades e à precarização. A manutenção dos RUs é, inegavelmente, uma prioridade essencial para a gestão da Unipampa, como a própria Reitoria reconheceu. Contudo, a demora na reabertura em alguns campi e a dificuldade em fechar novos contratos em outros, como em Jaguarão, revelam os limites do modelo terceirizado. A busca por soluções mais estáveis, como a gestão direta ou modelos mistos com maior controle universitário, pode ser o caminho para garantir que a alimentação, um direito básico, não se torne o obstáculo final entre o estudante e o diploma.
A Reitoria da Unipampa informou que “os serviços estão funcionando normalmente nos campi de Caçapava do Sul, Dom Pedrito e São Gabriel. Apenas o Campus Jaguarão está sem RU, devido a dois pregões fracassados. No entanto, um processo de dispensa de licitação está em fase final, aguardando apenas a assinatura da empresa no termo de contrato. Com as novas empresas já em atividade, pode-se observar uma melhora no serviço e na relação com os funcionários contratados. Ressaltamos o ótimo trabalho desenvolvido pelas equipes de fiscalização técnica e administrativa (um trabalho conjunto entre a PRODAE e os Campi, no qual observa-se que esta fiscalização está ocorrendo de forma intensa, com eficácia e eficiência.
Ressaltou que “Nas fiscalizações técnicas, ocorre a emissão de relatórios que são apresentados para a empresa contratada (com solicitações de planos de ação, se necessário) e também para a gestão da DGRU. Atualmente está acontecendo a pesquisa de satisfação junto à comunidade acadêmica. Em caso de encerramento dos contratos por rescisão contratual ou força maior, existem alterações nos pagamentos dos programas de permanência, que garantem uma suplementação financeira aos beneficiários destes programas; além disto, sempre ocorre uma aproximação com as secretarias municipais de desenvolvimento social dos municípios onde os serviços estão suspensos, visando encontrar alternativas complementares aos serviços já ofertados pela Universidade.”
Durante o 17º SIEPE, realizado entre os dias 4 e 6 de novembro no campus Bagé, a Sesunipampa se reuniu com a Reitoria no dia 5 para tratar de temas relacionados à permanência estudantil, incluindo a preocupação com o funcionamento dos Restaurantes Universitários. Na ocasião, o sindicato ressaltou a necessidade de rever o modelo de contratação das empresas e de promover um debate mais amplo, que inclua a possibilidade de aquisição de alimentos de produtores locais e uma gestão mais eficiente. A Reitoria reconheceu essa preocupação e afirmou ter a mesma intenção, mas destacou as dificuldades em internalizar a gestão, devido à extinção de cargos pelo governo federal, o que inviabiliza a abertura de novos concursos. Também foi comentada a flexibilidade do contrato atual, com o Prodae à frente da execução, e a criação de um Grupo de Trabalho (GT) para estudo da política de assistência estudantil. O reitor destacou a intenção de tornar a Unipampa uma referência em políticas de assistência estudantil, reforçando o compromisso institucional com o tema. A Sesunipampa, pontuou que o fortalecimento da assistência estudantil contribui também para aliviar a sobrecarga docente. Diante desse cenário, a seção sindical se colocou à disposição para atuar de forma próxima, contribuindo na construção de soluções duradouras para o tema.
Mesmo com a retomada gradual dos Restaurantes Universitários em boa parte dos campi, o cenário ainda exige atenção. A crise recente revelou fragilidades profundas na forma como o serviço é gerido, além de expor o quanto a alimentação é um direito essencial para garantir a permanência estudantil. A terceirização, embora comum nas universidades públicas, mostrou-se instável e pouco adaptada à realidade de cada campus. Diante disso, cresce dentro da comunidade acadêmica a defesa por alternativas mais sustentáveis, com maior controle público e transparência na execução do serviço. Mais do que garantir refeições, os RUs representam o compromisso da universidade com a equidade e a dignidade de seus estudantes. A reabertura marca um avanço, mas a verdadeira conquista virá quando cada campus puder assegurar, de forma contínua e com qualidade, o direito básico à alimentação e à permanência.








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